O nome da Comissão Estadual da Verdade do Amapá é uma homenagem à Francisco das Chagas Bezerra, o “Chaguinha”, cearense da cidade de Quixadá, nascido em 15 de dezembro de 1907. Na infância pobre aprendeu a ler e escrever lições de justiça e democracia, formados a partir de sua percepção das desigualdades sociais vivenciadas no sertão nordestino, vindo daí seu envolvimento com a política. Veio para o norte em 1933, morando em colônias agrícolas de Castanhal, no Estado do Pará. Em 1949, mudou-se para Belém onde conheceu e filiou-se ao Partido Comunista Brasileiro, o PCB, legenda pela qual se candidatou a deputado estadual. Após esse fato, veio para o Amapá, residindo inicialmente na colônia agrícola do Matapi, mas foi, em 1951, que Chaguinha decidiu mudar-se para Macapá, onde passou a atuar como vendedor autônomo de plantas, comercializadas em um carrinho de mão nas ruas da cidade. Foi por conta de sua militância no partido comunista que foi preso em 1964, por ocasião do golpe militar, ficando encarcerado na Fortaleza de São José de Macapá. Em 1973, voltou a ser preso pelos militares, acusado de subversão e comunismo, durante a operação conhecida como “Operação Engasga”, e encaminhado juntamente com outros presos para Belém, no Pará. Após vinte dias, sem que os militares encontrassem provas de seus envolvimentos com os crimes que desencadearam essa operação, foram soltos e enviados de volta à Macapá. Em razão do seu ativismo político, Chaguinha, influenciou significativamente o cenário político e social amapaense, contribuindo para a formação política de inúmeros jovens estudantes que sonhavam com um mundo mais livre, justo e igualitário. Morreu em Macapá, em 1996. Chaguinha era um homem simples e representa de certa forma, simbolicamente, a história de muitos outros homens e mulheres, alguns anônimos, mas que exerceram um papel significativo na resistência política em regiões como a do Território Federal do Amapá, administradas diretamente pela União, por um modelo de governabilidade que, desde sua implantação em 1943, pouco dialogou com as representações políticas e com os movimentos sociais.

A escolha do nome de “Chaguinha” para apadrinhar esta Comissão, que ainda é visto por alguns depoentes como uma figura controversa – apresentado ora como líder da resistência, e em outros momentos apenas como um simples vendedor de plantas que circulava pelas ruas de Macapá – visa incentivar a produção de estudos que ajudem em uma melhor compreensão da importância histórica de sua trajetória e de muitos outros homens e mulheres que fizeram a resistência no Território Federal do Amapá, em tempo de autoritarismo e opressão.